Efeitos da pandemia e do home-office no mercado imobiliário

A COVID-19, causada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2), impactou todas as relações jurídicas existentes no Brasil e no mundo. Caracterizada como uma pandemia pela OMS em 11.3.2020, os efeitos diretos e indiretos da COVID-19 e da atual forma de conviver em sociedade são inúmeros e, por vezes, ainda desconhecidos.

 

Analisando o impacto ocasionado pela pandemia no mercado imobiliário, chega-se a conclusões e estatísticas que demonstram dados alarmantes para o setor. Se desde 2015 se enxerga desaquecimento e desaceleração das transações imobiliárias – ciclo aparentemente normal, dado o período de ouro vivido pelo setor entre 2008 e 2014 –, com indícios de retomada gradual a partir de 2018, hoje o mercado imobiliário se vê diante de verdadeiro desinteresse na locação e aquisição de imóveis de natureza comercial, especialmente nas grandes capitais.

 

Pesquisa realizada pelo Grupo Zap no período de 27/04/2020 a 05/05/2020 já demonstrava queda abrupta nos lançamentos de empreendimentos e vendas de unidades no mercado primário nos meses de abr/20 e mai/20, início da pandemia e das medidas restritivas impostas pelos governos estaduais. Verifica-se que em abr/2020 a redução foi de 86% em relação aos lançamentos do mês imediatamente anterior e de 76% comparado ao mesmo mês de abril do ano anterior [1].

 

Não se olvida que a venda de imóveis residências reagiu rapidamente e vem alcançando marcas importantes. Segundo relatório mensal do SECOVI/SP, a comercialização de unidades residenciais no município de São Paulo em mai/2020 teve aumento de 25,1% em relação ao mês de abril do mesmo ano, o que seria um “resultado relativamente satisfatório”, certo que “a expectativa de retração em função da quarentena e do distanciamento social não se concretizou” [2]. Relatório mais recente elaborado pelo Sindicato demonstra aumento de 19,6% na comercialização de imóveis residenciais no mês de fev/2021 comparado ao mesmo mês do ano anterior, antes do início da pandemia, o que evidencia o gradual e forte crescimento do setor [3].

 

A busca por imóveis residenciais maiores e apartamentos em condomínio com opção de lazer e áreas verdes [4], assim como o fato de a principal taxa de juros ter alcançado seu menor patamar histórico, são fatores que certamente implicaram no aquecimento da comercialização de imóveis residenciais. Além disso, observou-se verdadeiro êxodo urbano, com movimento ainda bastante significativo de pessoas buscando imóveis no interior, em cidades mais pacatas, com menor custo de vida, para enfrentar o necessário período de confinamento [5] e provável manutenção do trabalho à distância.

 

Os imóveis de natureza comercial, contudo, não tiveram e não têm tido a mesma sorte. A taxa de vacância dos imóveis no Município de São Paulo alcançou o percentual de 17,29% no 4º trimestre de 2020, alta de 4% em relação ao 1º trimestre do mesmo ano; no mesmo período, no Rio de Janeiro, o percentual alcançou a marca de 24,05%. Segundo relatório da Revista Buildings, a taxa de vacância no 1º trimestre de 2021 do Município de São Paulo subiu para 19,40%, causando preocupação o contínuo movimento de queda na taxa de estoque ocupado [6].

 

Diversos são os fatores que culminam nesse desinteresse pelos imóveis comerciais, especialmente no momento econômico em que se vive. Um deles, contudo, é preponderante e faz crer que a crise do mercado imobiliário subsistirá após vencida a batalha contra a COVID-19 e reestruturada a situação econômica e financeira ocasionada pela pandemia: o sucesso na utilização do home-office.

 

O trabalho remoto exercido pelo funcionário de sua residência não é novidade. Estudo atribuído ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dava conta de que em 2018 3.8 milhões de pessoas já trabalhavam em casa, isto é, 5.2% da população [7]. A pandemia impôs a adoção do home-office, visando a diminuição da circulação do vírus, alcançando diversas empresas e pessoas que jamais se imaginaram trabalhando à distância, majorando o percentual de pessoas em trabalho remoto para 9,6% em outubro de 2020 (cerca de 7,3 milhões de pessoas em home-office) [8].

 

A utilização do home-office como forma principal de desenvolvimento das atividades, conturbada no início de sua implantação [9], mostra-se atualmente digna de aplausos. São inúmeras as empresas que, desde meados de maio de 2020, afirmam publicamente que irão aderir permanentemente ao trabalho remoto. É o caso, por exemplo, do Twitter, da Petrobrás e da LafargeHolcim, empresa que contém 1.500 funcionários e irá entregar as chaves de seu escritório no centro do Rio de Janeiro, estimando economia de 2 milhões de reais por ano em gastos que teriam apenas com a manutenção do escritório.

 

A redução nos custos de operação das empresas sem a perda da qualidade do serviço dos funcionários é o principal motivo pelo qual diversas companhias seguirão com as atividades 100% (cem por cento) remotas ou, ao menos, em modelo híbrido, autorizando-se o home-office de 2 a 3 vezes por semana mesmo após o fim da pandemia.

 

Nesse passo, verifica-se que o home-office afetou e certamente continuará afetando o mercado na comercialização de imóveis de natureza comercial, vez que passam a significar para as companhias custos desnecessários frente ao exitoso trabalho desenvolvido remotamente.

 

[1]Disponível em <https://imagens.vivareal.com.br/datazap/relatorio-covid/2fase-panorama_covid_DataZAP.pdf>. Acesso em 8.4.2021.

[2]Disponível em <http://www.secovi.com.br/downloads/pesquisas-e-indices/pmi/2020/arquivos/202005-pmi.pdf>. Acesso em 8.4.2021.

[3]Disponível em <http://www.secovi.com.br/downloads/pesquisas-e-indices/pmi/2021/arquivos/202102-pmi.pdf>. Acesso em 8.4.2021.

[4]Disponível em <https://casa.abril.com.br/news/como-a-pandemia-influenciou-a-busca-por-novos-imoveis-residenciais/>. Acesso em 12.4.2021.

[5]Disponível em <https://www.infomoney.com.br/minhas-financas/e-hora-de-comprar-imovel-no-interior-de-sp-veja-como-a-pandemia-mudou-o-mercado-de-cidades-proximas-a-capital/>. Acesso em 12.4.2021.

[6]Disponível em <https://revista.buildings.com.br/confira-a-previa-dos-dados-do-1o-tri-em-sao-paulo-e-rio-de-janeiro/>. Acesso em 8.4.2021.

[7]Disponível em <https://g1.globo.com/economia/concursos-e-emprego/noticia/2019/12/18/home-office-bateu-recorde-no-brasil-em-2018-diz-ibge.ghtml>. Acesso em 12.4.2021.

[8]Disponível em <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101772.pdf>. Acesso em 12.4.2021.

[9]Como, por exemplo, dificuldades na administração do tempo, falta de concentração e comunicação, problemas relacionados ao bom uso tecnologia, segurança e privacidade das informações, sentimentos de solidão e ansiedade, dentre outros.